O Game Pass justifica Sea of Thieves

Eu não acho que foi só comigo que serviços de streaming, como Netflix ou Amazon Prime Video, alteraram a maneira de ver séries e filmes.

Não só em relação ao ritmo que consumimos algo, mas simplesmente o que consumimos. Eu tenho certeza que, não fosse a facilidade de em minutos já estar assistindo algo, não teria visto coisas que achei ruins ou sem graça, como The OA e Dirk Gently. Por simplesmente estar lá, ainda mais logo abaixo de um “continue assistindo”, existem inúmeras coisas que ao cheguei ao menos até o fim de uma temporada. Pode não ser a atitude mais inteligente do mundo, mas vários fatores nesses serviços alteraram como dedicamos nosso tempo.

Game Pass da Microsoft tem o potencial de provocar uma mudança similar em videogames, e Sea of Thieves é o melhor exemplo disso.

Sea of Thieves não é ruim, ele é apenas muito pouco. O jogo de pirataria da Rare tem muitos pontos a serem elogiados. Seu charme é inegável, o mar é possivelmente o mais lindo a aparecer em um videogame e, ocasionalmente, histórias que surgem de forma emergente provocam gargalhadas e permitem que você teça um conto que nenhum outro jogador irá experimentar.

O problema é tudo que ocorre entre esse “ocasionalmente”. Na esmagadora maioria do tempo nada interessante acontece e o quão raso é esse mundo pelo qual estamos navegando fica rapidamente evidente. As missões são largamente sempre as mesmas, a variedade de inimigos é praticamente inexistente e, a não ser que você realmente queira mudar a aparência de itens como relógios, espadas e bússolas, há muito pouco de novo a ser visto que você já não verá nas horas iniciais.

Assim, por mais que ele possa ter momentos brilhantes quando você começa a se aventurar, não demora para que a fase apaixonada passe e a mesmice de suas ações venha à tona. Se sua única opção fosse a de desembolsar o necessário para adquirir uma cópia, eu diria com certeza absoluta que Sea of Thieves não vale a pena. Porém, o Game Pass existe e o novo trabalho da Rare marca o momento em que jogos da Microsoft Studios passam a estar presentes no serviço já em seu lançamento.

O sistema de assinatura da Microsoft dialoga perfeitamente com o tipo de experiência que Sea of Thieves tem. Fora de uma comunidade fervorosa, porque isso sempre aparece, eu não acho que o título da Rare tenha combustível para que o interesse nele seja mantido por mais do que uma ou duas semanas, por conta da ausência de uma progressão significativa e sua natureza repetitiva. É o tipo de jogo que, após um mês, muitos terão esquecido até que alguma grande atualização com novo conteúdo seja lançada.

Porém, por R$ 30 (mais a Live Gold, se você estiver jogando em um Xbox One), você pode jogar o quanto quiser de Sea of Thieves pelo período de um mês. Mesmo que você enjoe dele depois de um fim de semana (o que é bem factível), ainda há todo um catálogo com outros jogos a sua disposição. Se porventura você não tiver interesse em nada do Game Pass, se arrepender de R$ 30 é com certeza menos doloroso do que se arrepender de R$ 200 (ou aproximadamente R$ 150 dependendo da loja, segundo uma rápida visita ao Buscapé me informa). É como alugar antes de comprar, algo que era bem comum de ser feito não muitos anos atrás. E também traz de volta o fato de que existem títulos que são perfeitos para aluguéis – ou, especificamente, para estarem conosco temporariamente -, mas não para serem tidos. Sea of Thieves é excelente por pouco tempo e o Game Pass permite que tenhamos essa relação específica com o jogo, sem que tenhamos de fazer grandes investimentos.

E para deixar claro, eu não quero com isso entrar no mérito da discussão de “horas de jogo por real gasto”. Não é disso que estou falando aqui, e sempre vou defender experiências curtas e valiosas, como Gone HomeLimbo ou Brothers: A Tale of Two Sons. Sea of Thieves acaba sendo diferente porque seus bons momentos são diluídos e muitas vezes pedem por um esforço por parte de todos os jogadores em uma tripulação para serem criados, o que é mais comum não acontecer. Isso faz  com que seja mais evidente a falta de profundidade de seus sistemas e das possibilidades que ele tem em si. Ficar bêbado e vomitar nos outros tripulantes é engraçado, mas não mais do que duas ou três vezes.

É muito cedo para dizer com certeza que um sistema de assinatura como o Game Pass mudará a maneira como consumimos jogos. E a mudança nem sempre é necessariamente boa (eu realmente preferiria nunca ter assistido The OA). Mas neste caso específico, ele traz algo positivo. Sea of Thieves é um jogo que, de outra forma, seria melhor deixar passar reto. O Game Pass o justifica.