Análise - Mario + Rabbids: Kingdom Battle

oucas combinações soam mais esquisitas à primeira vista do que Mario + Rabbids: Kingdom Battle.

O encanador já participou de diversas atividades secundárias que não envolvem o resgate de princesas, indo desde esportes a ensinar matemática, datilografia, cruzar cenários de RPGs e dança. Ainda assim, existe algo particularmente mais estranho em imaginá-lo ao lado dos Rabbids – figuras próximas a coelhos que tiveram sua estreia no Wii como suporte a Rayman e que andavam fora de voga – e, para completar, em um jogo de combate estratégico aos moldes de Xcom.

No entanto, não é preciso muito tempo com o trabalho da Ubisoft Paris/Ubisoft Milão para que qualquer sensação de estranheza se dissipe, dando lugar à realização de que Mario + Rabbids não só é um jogo de estratégia excelente, como é também um dos melhores spin-offs de Super Mario já feitos.

A premissa de por que os Rabbids vão parar no Reino do Cogumelo é uma peculiar e desnecessária de ser explicitada aqui. O que importa é que eles, com sua lavadora de roupas transformada em máquina do tempo, obtêm um aparelho capaz de unir dois objetos distintos, indo em seguida parar no mundo da Princesa Toadstool e cia. Uma vez lá, o dispositivo em questão sai de controle, fundindo Rabbids com seres locais (tornando-os mais insanos no processo) e criando um vórtex que desestrutura todo aquela realidade. Assim, cabe a Mario, Luigi, Peach e Yoshi (além de Rabbid Mario, Rabbid Luigi, Rabbid Peach e Rabbid Yoshi, versões dos coelhos menos loucas que ajudam a trupe de heróis) sair em uma jornada para que tudo volte ao normal.

Kingdom Battle existe em dois momentos distintos. Na exploração, andamos por cenários que contêm puzzles obrigatórios e opcionais. Esses não são nunca particularmente difíceis e não demandam muito tempo para serem terminados, normalmente se resumindo a empurrarmos blocos que deslizam em direção a um botão, entender como manipular alavancas para que uma passagem seja revelada e coisas do tipo. Junto disso, existem muitos baús espalhados pelo ambiente, que conferem desde modelos 3D dos personagens e artes conceituais, a armas adicionais para os protagonistas. Não há nenhum puzzle que seja realmente memorável, mas esses segmentos são bons para darem uma quebrada na ação, fazê-lo descansar e se animar para a próxima batalha.

Os combates são o cerne de Mario + Rabbids. Selecionando três integrantes da equipe, essas partes contêm objetivos variados, como eliminar todos os inimigos, chegar a um ponto específico da fase (com inimigos novos nascendo a cada turno), escoltar alguém que não é capaz de se defender etc.

As lutas não serão alienígenas a ninguém que já tenha jogado coisas como Xcom ou Chroma Squad. Em um tabuleiro quadriculado, a cada turno podemos nos movimentar, atacar com projéteis e usar uma habilidade especial. Diferentes pedaços do ambiente podem ser usados como cobertura, sendo que sua altura determinará o tipo de defesa que isso nos proporcionará. Coloque Mario, por exemplo, atrás de uma cobertura baixa e os inimigos (desde que não nos peguem pelos flancos ou pelas costas) terão 50% de chance de nos atingir. Se a barreira for alta a chance cai para 0%, nos dando a certeza de que nossa figura, enquanto aquela cobertura não for destruída, está efetivamente protegida.

Mario + Rabbids simplifica alguns conceitos típicos ao gênero, mas sem torná-lo bobo ou perdendo nuances de complexidade. A questão de porcentagem de acerto é o melhor exemplo disso. Em vez de cálculos diferentes baseados em distância, ângulo e outras coisas mais, o jogo tem apenas três chances distintas de sucesso: 0%, 50% e 100%. Essa redução de possibilidades torna cada turno mais dinâmico, pois dá uma noção mais imediata sobre onde queremos nos posicionar e o que queremos fazer.

Ao mesmo tempo, todo o aspecto de movimentação é ampliado aqui, de certa forma sendo transformado também em uma arma e tornando essa característica dos turnos em algo tão interessante quanto o de dispararmos nossas armas. O que ocorre é que, além de caminharmos em direção ao que queremos, andar em cima de um inimigo provoca um pouco de dano. Nossos personagens dão rasteiras e, depois disso, podem continuar se movimentando para onde desejarmos.

Isso por si só já adiciona às batalhas um certo dinamismo, pois incentiva o jogador a querer ficar relativamente próximo aos oponentes, em vez de se distanciar e trocar disparos. Além disso, tal qual em Chroma Squad, quando nos movimentamos a um aliado podemos ser propulsionados, aumentando a área que podemos cruzar no ambiente. O que ocorre é que o desenho dos estágios é feito de tal forma para que seja corriqueiro conseguirmos alcançar posições vantajosas fazendo uso disso, ou de servir como um corta-caminho, com o custo de que normalmente aquele que saltou estará separado de nossos outros personagens e, consequentemente, mais suscetível ao perigo.

Mas isso não é tudo. Primeiro que esses dois aspectos da movimentação podem ser combinados em uma só ação, então nada impede você de dar uma rasteira em um oponente, andar em direção a um aliado, saltar a uma parte que inicialmente estava fora de seu alcance e, com isso, flanquear um inimigo que estava antes distante, por exemplo. Em segundo, toda essa característica ganha novas cores e complexidade quanto mais se avança no jogo, devido às diferentes habilidades de cada um de nossos protagonistas.

Existem algumas coisas em comum entre nossos heróis, mas todos eles têm poderes que não se repetem entre si, o que sempre me motivou a pegar uma equipe diferente a cada batalha (e a variá-la caso percebesse que a configuração escolhida não era a melhor para aquela situação). Assim, por exemplo, não demora para que Mario em uma só ação possa dar uma rasteira em um inimigo, seja impulsionado por um aliado e, em seguida, pise na cabeça de um outro oponente causando dano, para que ainda depois disso nos seja permitido disparar contra alguém.

E essa é uma característica do Mario especificamente. Rabbid Peach, por sua vez, é capaz de dar rasteira em oponentes múltiplos. Luigi, franco-atirador, tem pulos maiores e pode saltar seguidamente na cabeça de seus dois aliados, levando-o facilmente a posições em que possa tirar melhor proveito da grande distância de seus disparos. O que Mario + Rabbids consegue efetivamente fazer é tornar o ato de nos mexermos do ponto A ao ponto B tão divertido quanto o de atacarmos alguém.

O que Mario + Rabbids consegue efetivamente fazer é tornar o ato de nos mexermos do ponto A ao ponto B tão divertido quanto o de atacarmos alguém.

O jogo tem uma dificuldade que pedirá que você faça uso de todas essas ferramentas, mas que raramente o fará falhar em um estágio. O maior desafio está em completá-los com a nota “perfeita”, que envolve terminar uma fase em um certo número de turnos e com todos os personagens vivos. Se você gosta desse tipo de coisa, minha recomendação é que tente sempre alcançar esse “perfeito” de primeira. Retornar a fases antigas com armas melhores e mais habilidades faz com que elas sejam triviais ao ponto de quase nem demandar mais por nenhum pensamento estratégico.

Perder isso é uma pena, pois há uma profundidade tática que aos poucos se revela que é muito boa em Mario + Rabbids. Especialmente depois que novos tipos de unidades inimigas são introduzidas, é preciso começar a usar toda a gama de poderes que temos a nossa disposição, levando ao aprendizado de como as habilidades de nossos heróis se mesclam para eliminarmos rapidamente aqueles que oferecem maior perigo.

Independente de falhar repetidamente ou não, Mario + Rabbids nunca é de forma alguma opressor. Mesmo após morrer algumas vezes (algo que ocorreu especificamente em alguns chefes e em certas fases mais avançadas), o clima leve e gostoso de Super Mario ainda está lá, aliado ao humor do Rabbids. Eu não acho que as piadas acertam sempre, mas há algumas coisas genuinamente engraçadas na aventura. Isso aparece em especial nos comentários que quebram um pouco a quarta parede, brincando com os questionamentos que jogadores fazem sobre o Reino do Cogumelo há anos, mas que raramente aparecem fora dos títulos da série Mario & Luigi.

A caracterização dos personagens é no geral bem boa também. No começo pode parecer um tanto estereotipado Rabbid Peach, por exemplo, ser ciumenta e estar apenas interessada em tirar selfies o tempo todo. Isso é só uma impressão inicial, pois o jogo acha maneiras disso ser bem divertido, além de outras coisas inusitadas como Rabbid Mario que é uma espécie de italianão bronco e sedutor, ou mesmo a Princesa Peach, cuja classe pode ser mais ou menos descrita como uma mescla de assalto e suporte, algo não comumente associado à monarca do Reino do Cogumelo.

Há bastante coisa a ser feita em Kingdom Battle. Fora da campanha, existem diversas fases adicionais para uma modalidade cooperativa (que é acessada com cada jogador usando um Joy-Con, apesar de não ser a coisa mais confortável do mundo) cujo diferencial é permiti que quatro heróis sejam usados ao mesmo tempo, desafios adicionais em cada um dos quatro mundos e estágios secretos para serem encontrados.

É fácil olhar para Mario + Rabbids: Kingdom Battle e, por conta das franquias presentes, presumir que ele será uma versão exageradamente simplificada de um jogo de estratégia, gênero comumente complicado e difícil. O que a Ubisoft Paris/Ubisoft Milão conseguiu fazer aqui foi tornar acessível diversos aspectos do estilo ao mesmo tempo que manteve um bom nível de complexidade e introduziu ideias que acredito que veremos serem pegas por outros títulos. Kingdom Battle não só é um título tático excelente, como também um que não deve em nada a alguns dos melhores jogos a estrelarem Mario.

Mario + Rabbids: Kingdom Battle
Desenvolvido pela Ubisoft Paris e Ubisoft Milão
Distribuído pela Ubisoft
Disponível para Nintendo Switch
Data de lançamento: 28/08/17
A análise foi feita com uma cópia do jogo providenciada pela assessoria de imprensa

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★★★★★

Mario + Rabbids: Kingdom Battle simplifica aspectos de jogos de estratégia sem torná-los bobos, ao mesmo tempo que amplia aspectos de maneira inteligente. Ele não só é um jogo de estratégia excelente, como é também um dos melhores spin-offs de Super Mario já feitos.