Criado por brasileiros, The Fifth Apartment é sobre a triste desolação doméstica de uma idosa
No controle de uma idosa, havia pouco que eu pudesse fazer em seu pequeno, escuro e silencioso apartamento. A movi, e, arrastando os pés escondidos pelos chinelos felpudos, lentamente chegou à extremidade, alcançando a sacada, de onde era possível ouvir o som efusivo e intenso da vida que existia do lado de fora. Música francesa, luz, movimentos e um clima boêmio preencheram o espaço, até então escuro e vazio. Fechei os olhos, dei um sorriso. Mas ao olhar novamente para a tela, a senhora permanecia lá, distante, solitária. Nada daquilo estava a seu alcance. Naquele momento, soube que The Fifth Apartment seria uma experiência angustiante.
The Fitfh Apartment foi desenvolvido em apenas 48 horas durante a última edição da game jam Ludum Dare por Klos Cunha, Bruno Poli e Ricardo Bess, que formam parte da gaúcha Otus Game Studio. Alguns de seus membros, incluindo o próprio Klos, trabalham atualmente em um jogo da Behold Studios (de Chroma Squad) ainda não anunciado.
A equipe é conhecida por criar jogos atmosféricos e sensíveis, explorando a psique humana a partir de misturas estéticas interessantes, como noir e low poly. Dan Pinchbeck, consagrado por Dear Esther e Everybody’s Gone to the Rapture, jogos focados em narrativa com abordagens introspectivas, escolheu em 2013 um jogo desenvolvido pela equipe, Niveus, como um dos finalistas da game jam Indie Speed Run.
O novo jogo mantém muito da atmosfera e dos temas das criações anteriores da equipe, ainda que se diferencie um pouco pela estética: em vez das formas brutas do 3D de baixa poligonagem do próprio Niveus ou Cinerea, The Fifth Apartment é todo criado a partir de pinturas digitais 2D. O resultado é um jogo lindo, uma atmosfera pesada e envolvente, graças também ao excepcional trabalho de design de som, e uma narrativa marcante.
Há tanta sutileza e significado na forma subjetiva em como a narrativa é conduzida em The Fifth Apartment que, mais de uma vez, me peguei comparando-o à obra de Michael Haneke, dos incríveis A Professora de Piano e Amor. Talvez seja a maneira como Klos, Bruno e Ricardo abordaram temas como velhice, arrependimento e depressão: às vezes delicado e sensível, às vezes sujo, violento e cru.
Só sei que, em 15 minutos e em um pequeno cenário doméstico tortuoso, The Fifth Apartment me permitiu viver um minúsculo trecho da vida miserável de alguém que jamais achei que um dia poderia protagonizar um videogame. E isso não poderia ter sido mais poderoso.
Apague as luzes, coloque os fones de ouvido e jogue-o gratuitamente, em seu próprio browser — com exceção do Chrome, que impede o uso do plugin Unity. Acredito que você não esquecerá dele tão cedo.